2. Onde está a democracia




Onde está a democracia?

A democracia moderna, que assim se diz para a distinguir da democracia grega, tem sido apresentada como a formas de governo mais perfeita, ou pelo menos, em termos realistas, como a menos imperfeita ou menos má, entre todas as formas de governo que se conhecem.
Ora a verdade é que, embora o risco de perversão seja maior numas do que noutras situações, quase todas as formas de governo em cujo exercício os detentores do poder respeitarem os princípios basilares que as informam e se mantiverem dentro das barreiras da justiça e da equidade, se podem considerar aceitáveis pelo menos em determinadas circunstâncias históricas.
Por outro lado, é inegável que em todas as formas de governo se podem gerar e desenvolver os germes da perversão. Existem sempre, com efeito, muitos factores que podem ser desviados das suas verdadeiras funções e reencaminhados de acordo com os interesses ou os caprichos dos intervenientes.
Nas formas de governo não democráticas as perversões (só) podem ser evitadas ou minimizadas por uma consciência moral muito forte, em geral apoiada em convicções religiosas profundas; mas se, nesta situação, o risco de perversão é menor, também, no caso de ela acontecer, as sequelas se revelarão mais profundas e marcantes, de modo que se tornará mais difícil superá-las e será mais trabalhoso reparar as feridas que infligiram à sociedade. As formas extremas da perversão registam-se quando, em vez das serenas convicções religiosas, os detentores do poder se deixam guiar pelo fanatismo.
A democracia reúne as condições para ser não uma forma de governo menos sujeita ao risco das perversões, mas sim aquela onde as perversões não atingem tanta extensão e gravidade, e, por conseguinte, mais facilmente se pode encontrar remédio contra as suas sequelas.
1997-08-12

A facilidade com que todos os cidadãos têm acesso aos órgãos de governo, num regime democrático, e a possibilidade de uma renovação frequente do elenco dos que exercem as funções da governação, é, por um lado, adequada a evitar a permanência no poder daqueles que são menos aptos ou que estão interessados em corromper a democracia em prol dos seus interesses ou dos seus caprichos, mas, por outro lado, facilita com frequência o acesso dos mais incompetentes e dos mais perversos, dando lugar ao esbanjamento de energias, às fases de inércia e aos frequentes episódios de corrupção.
1997-08-13